Resenha > Onde os Fracos Não Tem Vez

Os aclamados cineastas Joel e Ethan Coen trazem seu mais envolvente e ambicioso filme, neste fumegante e supercarregado suspense de ação. Quando um homem depara com a sangrenta cena de um crime, uma caminhonete carregada de heroína e irresistíveis dois milhões de dólares, sua decisão de levar o dinheiro deflagra uma interminável e violenta reação em cadeia, que nem a lei do Oeste do Texas pode deter. Baseado no livro de Cormac McCarthy, autor premiado com o Pulitzer, e apresentando um elogiado elenco liderado por Tommy Lee Jones, este empolgante jogo de gato e rato vai deixá-lo na maior tensão até o momento final, de fazer parar o coração. (by www.2001video.com.br) No título original No Country for Old Men ou, muito mais de acordo, NENHUM PAÍS PARA OS VELHOS. "Fracos" no título em português talvez remeta ao delegado Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), um quase aposentado marcado por um trabalho outrora tranquilo no Texas e um pouco fora de seu tempo hoje. Ele pode ser tudo menos fraco, por isso o título original soa melhor: ele é apenas um velho homem (old men) das antigas. Tempo em que os policiais nem andavam armados. Hoje é diferente. O mal é muito maior, exponenciado pelo tráfico de drogas. Hoje, o delegado bem como seus colegas de classe não entendem o motivo de tanta violência. Seu parceiro da lei, também da antiga, trava um diálogo com ele onde expressa sua admiração por ver em sua cidade pessoas com cabelos verdes e alfinetes espetados na pele. No que Bell logo diz com seu humor cortante: -- Sinais e maravilhas! O tráfico de drogas na região oeste dos EUA bem perto da fronteira mexicana é intenso, os mexicanos são figurinhas fáceis na passagem da droga para os EUA e o México é uma das rotas de passagem principalmente das drogas que vêm da America Latina. O dinheiro é alto e o controle desse dinheiro está nas mãos de pessoas poderosas. O território é extenso e difícil de controlar. Desde a época dos pioneiros ouvimos, no filme, Bell dizer que esta terra é difícil de domar. Os irmãos Coen em seus filmes tem uma grande galeria de personagens riquíssimos em suas idiossincrasias. Abaixo vou analisar os que vejo com maior interesse, começando pelo serial killer do filme, o terrível Anton Chigurh (Javier Bardem): ANTON CHIGURH, o assassino frio Alguém numa resenha chamou-o com muita propriedade de "beatle do inferno" por causa de seu cabelinho e indumentária datada. Ele é um psicopata perigosíssimo. Uma espécie de anjo (do mal) exterminador que brinca com o destino das pessoas jogando cara-e-coroa. Penso que nosso beatle não liga muito para o dinheiro apesar de estar sempre no rastro dele. O que ele quer mesmo é exterminar as pessoas sem muito barulho, usando armas de grosso calibre e com um "grosso" silenciador. Ele usa também uma arma que é inédita na galeria dos grandes assassinos: um pino de ar comprimido usado para matar bois nos matadouros. Por aí dá pra se ter uma idéia da loucura do rapaz. Sua presença física e olhar vidrado, denota um passado estranho e misterioso. Quando a recepcionista do camping de traillers diz com uma certa autoridade maternal que não pode dar o endereço do bigodudo Llewelyn Moss (Josh Brolin), Anton aceita e livra ela da morte. Será que baixou um Complexo de Édipo no rapaz? Talvez sim. Ele parece ter sido uma criança infeliz controlada pela mãe. Isso fica latente quase no final quando ele se distrai com os meninos na bike e acaba avançando um sinal. Anton é extremamente profissional. Dá para fazer até uma analogia nos procedimentos dele e do bigodudo enrascado Llewelyn Moss (até mesmo ao comprar a camisa do garoto, exatamente como LLew fez com os rapazes na fronteira). Talvez como Moss, Anton seja também um veterano do Vietnã. Interessante notar o controle absoluto sobre seu corpo, nas intervenções cirúrgicas que faz com esmero de um profissional da saúde. Pela maneira como ele trata seu corpo há na minha opinião um paradoxo, que é a perfeição de nosso corpo como matéria prima feita por Deus, cuidado por mãos que sabem curar mas que não tem nenhuma objeção de matar friamente. Este é o paradoxo, muitos são bons mas não tem o dom da cura e do cuidado a nível hospitalar. Anton é mau e tem este dom. Sua preocupação com o destino o faz ser um assassino místico, um possesso pelo mal. Anton é um habitante deste país moderno, povoado por espíritos malignos que já estão no seu auge de maldade. O país moderno onde o velho homem não tem mais vez. LLEWELYN MOSS, o ladrão do dinheiro Llew é o aposentado procurando coisas para passar o tempo. Uma agitação eterna. Talvez um saudoso da época da Guerra do Vietnã. Ele gosta de correr perigo, alimentado por adrenalina. É criterioso, mas sua impulsividade o torna pouco consciente na questão bem vs mal. Seu casamento parece não andar bem e junto com a falta de dinheiro é fácil para ele se meter numa dura enrascada. Conhece de investigação policial e sabe das artimanhas dos caçadores humanos. Ele foge de Anton mesmo sem saber na realidade quem ele é, mas sabe que ele é bom caçador. Diferentemente do xerife Ed Tom Bell ele é um habitante desse mundo moderno, conhece o que acontece na fronteira e sabe da sanha do mal dos traficantes mexicanos, mas não os evita. Apesar disso demorou a perceber uma tática moderna: um sensor colocado na mala de dinheiro. Essa vai ser a maior aventura para Moss desde a Guerra do Vietnã. Um aventura tétrica. ED TOM BELL, o xerife Bell pra mim é o personagem mais interessante dos três (uma representação sensacional do ótimo Tommy Lee Jones), ele tem uma inteligência acima da média, um humor cortante e muita sabedoria. Ele é dos bons. Ele sabe que esse mundo não presta e para todas as maluquices ele não precisa ter entendimento, o mundo é mal e ponto final. Sua capacidade de análise é fantástica. Ele logo descobre qual é a arma que o beatle do inferno usa para matar suas vítimas, contando para a esposa de Moss o caso em que um criador de gado mata o boi. Ela não entende nada, mas funciona como uma boa válvula de escape para sua análise. Sua ótima capacidade de observação faz dele um expert na cena do crime. Bell é um homem bom, ele está sob a graça de Deus, isso fica latente quando ele volta a cena do crime (onde Moss é assassinado pelos mexicanos) e lá está Anton, o beatle do inferno, atrás da porta. Ele entra com a pistola na mão, guarda-a depois e senta na cama. Ali ele teve um livramento, pois Anton poderia tê-lo matado facilmente, mas isso não acontece. Ele vê a grade do duto de ventilação fora do lugar, e sabe que ali foi colocada a mala do dinheiro. Alguém me perguntou sobre quem ficou com o dinheiro, e pra quem me perguntou, foi o xerife Bell quem ficou com o dinheiro. Não penso assim. Bell não combina com o dinheiro malditamente sujo de sangue. Ele jamais iria se sujar com um dinheiro desses, um dinheiro de tráfico de drogas. Repito. Bel é um bom homem. Ele não é desse mundo moderno, porque não tem a malícia propriamente dita. Voltar a cena do crime foi uma falta de malícia sua, pois ele sabia que o assassino poderia estar lá dentro. Ele sobreviveu. Isso me faz lembrar de uma frase do Olavo de Carvalho: "Abaixo a malícia: só quem confia vence". No caso aí a confiança era imperceptível para ele, mas ela estava lá dando suporte, sob a proteção da graça de Deus. Talvez a resposta se o xerife ficou ou não com dinheiro, esteja no sonho que Bell conta para a esposa no final. Ele diz que seu pai mostrou um dinheiro pra ele, mas ELE NÃO PEGOU. Ali ele disse tudo. ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ é um filmaço. Os irmãos Coen sabem como Kubrick usar o silêncio a seu favor nas cenas, elas tem muitos gestuais e procedimentos que prendem muito a atenção. É uma maneira muito legal de fazer cinema. Usam atores que mais parecem pessoas reais conseguindo dar às cenas uma realidade sem igual. Das cenas que achei muito interessantes está a cena violentíssima onde Anton mata um policial estrangulando-o com as algemas, onde o chão fica todo marcado com a bota do policial (os desenhos no chão dariam um bom motivo para uma arte conceitual pós-moderna como "marcas do desespero") ; e uma cena com Moss na fronteira tentando entrar no EUA, o policial de fronteira faz suas indagações e Moss usa seu "passaporte" que é ser veterano da Guerra do Vietnã, algo que abre todas as portas pra ele, menos talvez a que ele deveria ter se apegado: a porta da sobrevivência. Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Men), dos Irmãos Coen (EUA 2007)

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