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DJANGO ou DOCTOR SCHULTZ ou O DIA EM QUE TARANTINO EXPLODIU
Para um dono de video clube absorver todos os filmes que aluga é quase uma coisa bem fácil. Agora, absorver e depois virar um cineasta de marca é para poucos. Assim o foi com Quentin Tarantino. É inegável que ele é genial em seus filmes (aqui roteirizando também), seu estilo pop é inconfundível, violência extremada, verbalização extremada, humor negro, e principalmente as influências de filmes pop de outrora. Ele consegue juntar tudo e apresentar um enredo que é uma salada refrescante num mundo de proteínas.
Em Django ele chega forte com o tema racismo e vingança. Como nos Bastardos Inglórios foi o holocausto e a vingança. Sem evitar polêmica, já chamou o grande realizador de westerns John Ford de racista, e abraçando uma causa panfletária dos negros, com seu Django, sobe no banco para falar. É claro que quase tudo ali é retocado no exagero, pois fontes mais contemporâneas vieram para recolocar a posição americana quanto ao escravismo num lugar menos escabroso do que dizem. O sulista na América tratava bem os seus negros, e os que eram contrário a isso eram mais exceção do que maioria. Veja em E O Vento Levou.., o papel das mucamas nas grandes fazendas sulistas. Ou, vejam a declaração racista de Abraham Lincoln, considerado, equivocadamente, o libertador dos escravos americanos. Interessante o papel de Samuel L. Jackson como negro racista. E não era assim Zumbi dos Palmares, que como chefe do quilombo, possuía escravos também?
Bem, o filme em si é uma grande diversão, e muito mais se considerarmos o final feliz de justiça pintada de vermelho sangue e fogo explosivo. Christoph Waltz como Dr.Schultz, na minha opinião, é o charme do filme, é ele o anjo restaurador da vida de Django. É ele quem confronta a indiferença do vilão (excelente) Dicaprio, com os livros de sua própria biblioteca, com a erudição e a surpresa daqueles que estão prontos para mandarem os maus para o lugar deles. Confesso que ver um Tarantino me dá um pouco de medo por não saber nunca o que vem a seguir. Não é dos meu preferidos, mas é um genial criador. O cineasta negro americano Spike Lee não gostou do filme por achar os personagens negros caricatos e exagerados, só que o que ele viu foi um autêntico produto tarantiano, que explode seu próprio cineasta, literalmente.