Resenha > Nascida Ontem
É o filme anti loira-burra. O estereótipo loira burra foi explorado na literatura por Dorothy Parker no seu livro Big Loira e outras histórias de Nova York:
(...) Pra quem ainda não conhece a Dottie, ela foi uma intelectual que marcou a cena literária e social da Nova York dos anos 20 e 30. A língua da moça era afiadíssima, e ela em nada se sentia intimidada em conviver com a homarada da Algonquin Round Table, um grupo de escritores, críticos, atores e intelectuais que se reunia diariamente para almoço e bate-boca no Hotel Algonquin. Eles se auto-intitulavam (ainda tem hífen???) The Vicious Circle. Pois Dorothy Parker não poupava ninguém. E um dia largou a seguinte pérola sobre uma socialite da cena local: "Essa mulher fala 18 línguas e não sabe dizer não em nenhuma delas." (...) Fonte: < http://meninasintimadas.blogspot.com/2009/02/toda-mulher-tem-um-pouco-de-big-loira.html >
Muitas representantes da loira burra foram eternizadas no cinema, algumas por Jayne Mansfield e Anita Ekberg (esta no insuperável La Dolce Vita de Fellini). Neste filme, Nascida Ontem, a loura Judy Holliday é uma representante da loira aparentemente burra, apesar de todos os indicadores, como a entonação da voz, a maneira de se vestir e as suspeitas relações. Só que nossa Emma 'Billie' Dawn (Judy Holliday) é muito inteligente, mas muito mal informada. Não teve uma educação boa. Mas teve um pai cheio de dignidade que tentou passar isso pra ela: Veja se não vai sair na capa dos jornais! Mas a vida é a vida, e ela conheceu o grosseirão inescrupuloso Harry Brock (interpretação fantástica de Broderick Crawford), tornou-se sua quase eterna noiva.
Brock é um negociador de ferro-velho que cresceu no negócio vendendo o material e roubando depois o mesmo material do mesmo comprador. E isso é um grande motivo de honra para ele, propalado aos sete ventos. Chega ser burro de tão ingênuo... Ou será um valentão atrás do muro da impunidade?
Numa viagem de negócios espúrios a Washington o casal conhece o jornalista idealista Paul Verrall (o bonitão William Holden), que quer fazer uma reportagem com o grande magnata do ferro-velho. Entre vários momentos de grosseria em que Brock parece se sentir revitalizado com a pressão chegando nas cucuias, ele ultraja seu advogado, o jornalista, seu pequeno leão-de-chácara e, a própria noiva Billie Dawn, no modo dele, sua razão de viver. Paul é um bom e esperto jornalista, e conhece muito bem a figura de Brock. Já no primeiro momento suas almas não se cruzam e Paul não se faz de rogado no bateu-levou.
Esta viagem a Washington é para um contato com um deputado rabo-preso, aquilo que nós todos estamos cansados de conhecer, o tal do caminho duplo da lavação de mão. Paul sabe muito bem dos "ideais democráticos" do magnata do ferro-velho.
Brock na sua falta de sensibilidade acha que sua noiva Billie Dawn é um bicho do mato com falta de trato, e quer que ela seja mais sofisticada. Daí tem uma brilhante idéia (brilhante para nós todos, menos para ele), que é fazer com que o jornalista Paul Verrall ensine umas boas maneiras para Billie. Ah! Se o nosso magnata soubesse em que bela ladeira ele acaba de ser empurrado... Paul concorda em ensinar Billie com o irrecusável salário de $400,00 por semana. Isso é que é ganhar dinheiro sem fazer força, porque logo logo Paul e Billie se completam grandemente.
A primeira coisa em que Paul ajuda Billie é arrumar um par de óculos, cuja ausência era um estorvo para a leitura. Aqui cai o pano da loira burra, a melhor invenção para tornar as pessoas, pelo menos aparentemente, mais inteligentes: o óculos! Só que Billie, fora sua carência física, não precisa disso. Paul se surpreende com sua inteligência. Ele a ensina como ser uma verdadeira americana, andando pelos caminhos da democracia e da liberdade. Vão juntos a Biblioteca do Congresso, ao Parlamento, mostra os ensinamentos dos pais fundadores americanos. Nas andanças há até um libelo citado de Thomas Jackson sobre a liberdade de portar armas. Daí para adiante nossa fênix renascida começa a ver o quanto seu noivo magnata é um banana, inescrupuloso, violento, corrupto e anti-democrático. Agora o segundo companheiro de Billie é o dicionário. O primeiro já sabemos quem é... Ela agora dá conselhos até mesmo para o deputado, que não sabe onde esconder sua cara corrupta.
Billie também era a laranja de Brock, porque assinava todos os documentos obscuros trazidos pelo advogado etílico e fracassado de Brock. Agora a coisa muda de figura, Billie só assina se ler e concordar com o que está lendo. Quando Brock percebe que o feitiço se virou contra o feiticeiro, é tarde demais. Paul e Billie estão completamente apaixonados.
Nascida Ontem é uma comédia deliciosa com a destreza de George Cukor (Núpcias de Escândalo), oscarizado com 'melhor atriz' para Judy Holliday. Para os amantes dos clássicos é imperdível!
Nascida Ontem (Born Yesterday) de George Cukor, EUA, 1950
(...) Pra quem ainda não conhece a Dottie, ela foi uma intelectual que marcou a cena literária e social da Nova York dos anos 20 e 30. A língua da moça era afiadíssima, e ela em nada se sentia intimidada em conviver com a homarada da Algonquin Round Table, um grupo de escritores, críticos, atores e intelectuais que se reunia diariamente para almoço e bate-boca no Hotel Algonquin. Eles se auto-intitulavam (ainda tem hífen???) The Vicious Circle. Pois Dorothy Parker não poupava ninguém. E um dia largou a seguinte pérola sobre uma socialite da cena local: "Essa mulher fala 18 línguas e não sabe dizer não em nenhuma delas." (...) Fonte: < http://meninasintimadas.blogspot.com/2009/02/toda-mulher-tem-um-pouco-de-big-loira.html >
Muitas representantes da loira burra foram eternizadas no cinema, algumas por Jayne Mansfield e Anita Ekberg (esta no insuperável La Dolce Vita de Fellini). Neste filme, Nascida Ontem, a loura Judy Holliday é uma representante da loira aparentemente burra, apesar de todos os indicadores, como a entonação da voz, a maneira de se vestir e as suspeitas relações. Só que nossa Emma 'Billie' Dawn (Judy Holliday) é muito inteligente, mas muito mal informada. Não teve uma educação boa. Mas teve um pai cheio de dignidade que tentou passar isso pra ela: Veja se não vai sair na capa dos jornais! Mas a vida é a vida, e ela conheceu o grosseirão inescrupuloso Harry Brock (interpretação fantástica de Broderick Crawford), tornou-se sua quase eterna noiva.
Brock é um negociador de ferro-velho que cresceu no negócio vendendo o material e roubando depois o mesmo material do mesmo comprador. E isso é um grande motivo de honra para ele, propalado aos sete ventos. Chega ser burro de tão ingênuo... Ou será um valentão atrás do muro da impunidade?
Numa viagem de negócios espúrios a Washington o casal conhece o jornalista idealista Paul Verrall (o bonitão William Holden), que quer fazer uma reportagem com o grande magnata do ferro-velho. Entre vários momentos de grosseria em que Brock parece se sentir revitalizado com a pressão chegando nas cucuias, ele ultraja seu advogado, o jornalista, seu pequeno leão-de-chácara e, a própria noiva Billie Dawn, no modo dele, sua razão de viver. Paul é um bom e esperto jornalista, e conhece muito bem a figura de Brock. Já no primeiro momento suas almas não se cruzam e Paul não se faz de rogado no bateu-levou.
Esta viagem a Washington é para um contato com um deputado rabo-preso, aquilo que nós todos estamos cansados de conhecer, o tal do caminho duplo da lavação de mão. Paul sabe muito bem dos "ideais democráticos" do magnata do ferro-velho.
Brock na sua falta de sensibilidade acha que sua noiva Billie Dawn é um bicho do mato com falta de trato, e quer que ela seja mais sofisticada. Daí tem uma brilhante idéia (brilhante para nós todos, menos para ele), que é fazer com que o jornalista Paul Verrall ensine umas boas maneiras para Billie. Ah! Se o nosso magnata soubesse em que bela ladeira ele acaba de ser empurrado... Paul concorda em ensinar Billie com o irrecusável salário de $400,00 por semana. Isso é que é ganhar dinheiro sem fazer força, porque logo logo Paul e Billie se completam grandemente.
A primeira coisa em que Paul ajuda Billie é arrumar um par de óculos, cuja ausência era um estorvo para a leitura. Aqui cai o pano da loira burra, a melhor invenção para tornar as pessoas, pelo menos aparentemente, mais inteligentes: o óculos! Só que Billie, fora sua carência física, não precisa disso. Paul se surpreende com sua inteligência. Ele a ensina como ser uma verdadeira americana, andando pelos caminhos da democracia e da liberdade. Vão juntos a Biblioteca do Congresso, ao Parlamento, mostra os ensinamentos dos pais fundadores americanos. Nas andanças há até um libelo citado de Thomas Jackson sobre a liberdade de portar armas. Daí para adiante nossa fênix renascida começa a ver o quanto seu noivo magnata é um banana, inescrupuloso, violento, corrupto e anti-democrático. Agora o segundo companheiro de Billie é o dicionário. O primeiro já sabemos quem é... Ela agora dá conselhos até mesmo para o deputado, que não sabe onde esconder sua cara corrupta.
Billie também era a laranja de Brock, porque assinava todos os documentos obscuros trazidos pelo advogado etílico e fracassado de Brock. Agora a coisa muda de figura, Billie só assina se ler e concordar com o que está lendo. Quando Brock percebe que o feitiço se virou contra o feiticeiro, é tarde demais. Paul e Billie estão completamente apaixonados.
Nascida Ontem é uma comédia deliciosa com a destreza de George Cukor (Núpcias de Escândalo), oscarizado com 'melhor atriz' para Judy Holliday. Para os amantes dos clássicos é imperdível!
Nascida Ontem (Born Yesterday) de George Cukor, EUA, 1950
