Resenha > A História Real
O título original é The Straight Story, ou seja, A História de Straight. Straight tem outro sentido que é linha reta (ou careta). Mas também é o sobrenome do nosso herói: Alvin Straight. Então nada mais interessante que usar a palavra para fazer uma alusão às rodovias americanas que são extremamente retas. De dar sono.
A história é a seguinte: Alvin Straight (Richard Farnsworth), 73 anos, viúvo, mora em Laurens no Iowa com a filha Rosie (Sissy Spacek) numa comunidade rural. Seu irmão Lyle, mais velho, com 76 anos, mora em Mont Zion no Wisconsin. Distância: mais de 500 Km. Lyle sofreu um derrame e Alvin é comunicado, eles estão brigados e não se falam há mais de dez anos. Na mente de Alvin vêm as lembranças de como os dois eram tão agarrados e por quanto já passaram. Sua saúde também não vai nada bem. Alvin é teimoso e foge dos médicos, já está com a visão prejudicada, com artrose e diabético. Pensa ser sua última chance de reconciliação com o irmão já que os dois estão velhos e debilitados. Alvin é muito inteligente e orgulhoso. Ele se decide ir ao encontro do irmão, apesar da distância grande, pela única maneira em que ele pensa ser mais viável, já que ele não tem dinheiro e nem quer ajuda de ninguém. É a única maneira que ele tem o controle total: pilotar o seu cortador de gramas até lá. Ele improvisa um trailer onde vai estocar alimentos e combustível para a empreitada. O trailer parece ser pesado, pensa Rosie. Na primeira tentativa ele enguiça, mas Alvin não se faz de rogado ele volta, dá um tiro no seu cortador de grama velho e compra um mais novo e potente, um legítimo John Deerer 66, de um único dono, seu amigo e admirador, Tom (Everett McGill). E lá vai ele para o Wisconsin, a mais ou menos, chutando, 10 km/h. Devagar se vai ao longe.
Esta é uma história baseada em fatos reais acontecidos em 1994. Como sempre a realidade superando a ficção. O diretor de filmes bizarros (Twin Peaks, O Homem-elefante, Duna, Veludo Azul), David Lynch, viu a história no jornal com o nome do título em português, se interessou e fez um filme bem diferente do que ele normalmente faz.
Algumas resenhas falam que o filme é uma aula de superação. Concordo, em parte, porque vejo sempre essa palavra meio como fetiche. O fetiche da superação. Sim, Alvin se superou, mas ele não estava realmente preocupado com superação. Ele queria chegar lá no seu destino e ponto final. Ele não é uma espécie de maratonista que quer cumprir sua distância e provar que pode. Como a corredora suíça chegando completamente desfigurada pelo esforço na Olimpíada de Los Angeles. Um exagero que poderia tirar sua vida. Aliás, Filipídes, o homem que deu origem a palavra maratona, morreu ao chegar depois de correr, rapidamente, 42 km na Grécia em 490 aC.
Alvin é paciente e carismático, como o beatnik Jack Kerouac no livro On The Road, mas sem sexo, drogas e... tortas de maçã. Este é um Road movie às avessas. O que chama atenção no nosso velhinho é sua sabedoria que vai contaminando as pessoas no caminho. Ele é extremamente compreensivo, pois já apanhou muito da vida. Foi veterano de guerra e matou um companheiro por engano, foi esse o motivo para afundá-lo na bebida, e a bebida também foi um dos motivos para afastá-lo do irmão.
Entre vários contatos ao longo da viagem destaco três: A grávida que foge de casa, os ciclistas e os gêmeos brigões. Para a grávida ele ensina a importância da família fazendo um paralelo com um feixe de galhos presos, muito mais difícil de partir do que um galho somente. Aos ciclistas ele dá a resposta sobre o mais difícil na velhice, que é o pensar na juventude passada. E para os gêmeos, a importância dos irmãos como figura de compreensão, pois foram criados desde cedo juntos.
Sua relação com a filha Rosie é muito amorosa, pois Rosie tem pequenos problemas mentais que interferem um pouco em sua fala, ainda assim ela é muito inteligente, Alvin sabe. Esses problemas fizeram com que Rosie perdesse a guarda dos filhos por causa de um incêndio acontecido. Alvin sabe que ela não teve culpa, mas fala com rancor do Estado que tirou as crianças de Rosie.
Depois de tanto tempo e distância (um mês e doze dias), entre mau tempo e percalços, o que parecia impossível para Alvin Straight, ele consegue. Quase chegando, o cortador John Deere solta fumaça e morre, mas milagrosamente volta a funcionar. A emoção toma conta de Lyle, com os olhos marejados ele diz: -- Você veio me ver naquilo ali?
Na sua terceira parada ele é perguntado se não tem medo de vir de tão longe. Ele responde: -- Quem lutou na guerra não pode ter medo dos milharais do Iowa. Viagem abençoada e protegida pela Graça do bom Deus.
Um filme interessante e tocante. Belas imagens e bela trilha sonora com um violinozinho choroso maravilhoso. A trilha é de Angelo Badalamentti, que fez um trabalho impecável nas trilhas de Twin Peaks e Veludo Azul.
A História Real (The Straight Story), de David Lynch (FRA,EUA,ING 1999)
A história é a seguinte: Alvin Straight (Richard Farnsworth), 73 anos, viúvo, mora em Laurens no Iowa com a filha Rosie (Sissy Spacek) numa comunidade rural. Seu irmão Lyle, mais velho, com 76 anos, mora em Mont Zion no Wisconsin. Distância: mais de 500 Km. Lyle sofreu um derrame e Alvin é comunicado, eles estão brigados e não se falam há mais de dez anos. Na mente de Alvin vêm as lembranças de como os dois eram tão agarrados e por quanto já passaram. Sua saúde também não vai nada bem. Alvin é teimoso e foge dos médicos, já está com a visão prejudicada, com artrose e diabético. Pensa ser sua última chance de reconciliação com o irmão já que os dois estão velhos e debilitados. Alvin é muito inteligente e orgulhoso. Ele se decide ir ao encontro do irmão, apesar da distância grande, pela única maneira em que ele pensa ser mais viável, já que ele não tem dinheiro e nem quer ajuda de ninguém. É a única maneira que ele tem o controle total: pilotar o seu cortador de gramas até lá. Ele improvisa um trailer onde vai estocar alimentos e combustível para a empreitada. O trailer parece ser pesado, pensa Rosie. Na primeira tentativa ele enguiça, mas Alvin não se faz de rogado ele volta, dá um tiro no seu cortador de grama velho e compra um mais novo e potente, um legítimo John Deerer 66, de um único dono, seu amigo e admirador, Tom (Everett McGill). E lá vai ele para o Wisconsin, a mais ou menos, chutando, 10 km/h. Devagar se vai ao longe.
Esta é uma história baseada em fatos reais acontecidos em 1994. Como sempre a realidade superando a ficção. O diretor de filmes bizarros (Twin Peaks, O Homem-elefante, Duna, Veludo Azul), David Lynch, viu a história no jornal com o nome do título em português, se interessou e fez um filme bem diferente do que ele normalmente faz.
Algumas resenhas falam que o filme é uma aula de superação. Concordo, em parte, porque vejo sempre essa palavra meio como fetiche. O fetiche da superação. Sim, Alvin se superou, mas ele não estava realmente preocupado com superação. Ele queria chegar lá no seu destino e ponto final. Ele não é uma espécie de maratonista que quer cumprir sua distância e provar que pode. Como a corredora suíça chegando completamente desfigurada pelo esforço na Olimpíada de Los Angeles. Um exagero que poderia tirar sua vida. Aliás, Filipídes, o homem que deu origem a palavra maratona, morreu ao chegar depois de correr, rapidamente, 42 km na Grécia em 490 aC.
Alvin é paciente e carismático, como o beatnik Jack Kerouac no livro On The Road, mas sem sexo, drogas e... tortas de maçã. Este é um Road movie às avessas. O que chama atenção no nosso velhinho é sua sabedoria que vai contaminando as pessoas no caminho. Ele é extremamente compreensivo, pois já apanhou muito da vida. Foi veterano de guerra e matou um companheiro por engano, foi esse o motivo para afundá-lo na bebida, e a bebida também foi um dos motivos para afastá-lo do irmão.
Entre vários contatos ao longo da viagem destaco três: A grávida que foge de casa, os ciclistas e os gêmeos brigões. Para a grávida ele ensina a importância da família fazendo um paralelo com um feixe de galhos presos, muito mais difícil de partir do que um galho somente. Aos ciclistas ele dá a resposta sobre o mais difícil na velhice, que é o pensar na juventude passada. E para os gêmeos, a importância dos irmãos como figura de compreensão, pois foram criados desde cedo juntos.
Sua relação com a filha Rosie é muito amorosa, pois Rosie tem pequenos problemas mentais que interferem um pouco em sua fala, ainda assim ela é muito inteligente, Alvin sabe. Esses problemas fizeram com que Rosie perdesse a guarda dos filhos por causa de um incêndio acontecido. Alvin sabe que ela não teve culpa, mas fala com rancor do Estado que tirou as crianças de Rosie.
Depois de tanto tempo e distância (um mês e doze dias), entre mau tempo e percalços, o que parecia impossível para Alvin Straight, ele consegue. Quase chegando, o cortador John Deere solta fumaça e morre, mas milagrosamente volta a funcionar. A emoção toma conta de Lyle, com os olhos marejados ele diz: -- Você veio me ver naquilo ali?
Na sua terceira parada ele é perguntado se não tem medo de vir de tão longe. Ele responde: -- Quem lutou na guerra não pode ter medo dos milharais do Iowa. Viagem abençoada e protegida pela Graça do bom Deus.
Um filme interessante e tocante. Belas imagens e bela trilha sonora com um violinozinho choroso maravilhoso. A trilha é de Angelo Badalamentti, que fez um trabalho impecável nas trilhas de Twin Peaks e Veludo Azul.
A História Real (The Straight Story), de David Lynch (FRA,EUA,ING 1999)