Resenha > Gran Torino

Clint Eastwood é Walt Kowalski, um veterano da guerra da Coréia que acaba de enviuvar. Ranzinza e racista, Kowalski é forçado a encarar os próprios demônios quando seu vizinho Thao, um adolescente asiático, faz uma tentativa frustrada de roubar seu Gran Torino 1972 por pressão de uma gangue Hmong. Ao mesmo tempo em que Kowalski assume a tarefa de proteger Thao e sua família contra a gangue, que ameaça cada vez mais a vizinhança, vai surgindo entre o americano e o jovem oriental uma forte amizade. Uma história de coragem e superação de preconceitos. (by www.2001video.com.br)

Gran Torino é o carro lançado pela Ford em 1972 (é aquele mesmo carro vermelho e branco da dupla do seriado de TV Starsky e Hutch). É um símbolo no filme da vitoriosa indústria automobilística americana, antes de ser destroçada pelo socialismo dos sindicatos. Um símbolo do capitalismo americano e de seu dono, o conservador Walt Kowalski (Clint Eastwood) que trabalhou na Ford e participou da linha de montagem do Gran Torino. Discordo da sinopse da 2001Video acima. Walt não é racista e muito menos politicamente correto, ele é um revoltado com o que os EUA vem se tornando, um país que se adapta aos imigrantes quando os imigrantes é que deveriam se adaptar aos EUA. Ele é um perfeito anti politicamente correto quando chama um negro do bairro de crioulo. Sim, ele pode ser radical, mas seu radicalismo vai mudar aprendendo a ser mais tolerante. Tolerância não é aceitar as coisas erradas, ele sabe muito bem disso e, é claro, como ser humano tem lá seus preconceitos.

O habitante da Blogosfera Janer Cristaldo, escreveu certa vez sobre o escritor e ex-professor de literatura comparada em Cambridge George Steiner que odiava o racismo mas dizia em seus momentos em que tinha sua paz abalada: “Mas pergunte-me o mesmo se passo a viver na casa ao lado de uma família jamaicana com seis filhos que escutam reggae e rock and roll todo o dia. Ou quando meu assessor venha e me diga que o valor de minha propriedade caiu a pique”. Em um outro caso interessante, os moradores de um condomínio de alto padrão em Porto Alegre, conseguiram comprar de volta num preço bem acima, um apartamento no condomínio que foi comprado por procuração para uma família de ciganos que baixavam o nível do condomínio. Estas situações não ficam muito longe da situação vivida por Walt em seu bairro. Cada cidade tem como diz Cristaldo o seu modus vivendi, na Europa é o silêncio, extremamente necessário para um escritor. Walt Kowalski não é um escritor, mas também gosta de ordem e paz.

Seus vizinhos imigrantes chineses tem sua cultura e ritos próprios e que no início irrita Walt. Mas ele aos poucos é conquistado pela paciente irmã (Ahney Her) do garoto que ele aprendeu a odiar: Thao (Bee Vang). Salva de uma gangue por Walt, sua inteligência e coragem o cativam. Ele vai aprender a gostar de Thao por intermediação dessa irmã que traça um perfil de Thao para Walt. Abençoada irmã.

Uma das frustrações de Walt são seus filhos, noras e netos, fúteis e que não o compreendem. O politicamente correto abarcou-os. O carro da família simbolicamente não é um 'Gran Torino' americano e sim um carro japonês fabricado em pleno EUA.

O bairro onde Walt e seus vizinhos moram é violento e decadente, assolado por várias gangues de jovens. São chineses, negros, brancos e chicanos. As casas onde moram os imigrantes, em geral são degradadas, particularmente isso irrita Walt, que é uma espécie de faz tudo e deixa sua casa sempre organizada. Já que Thao é dedicado com os jardins da casa em que mora, Walt vai ensinar Thao a fazer a manutenção das coisas. Ao poucos, com sua maneira ranzinza de ser, mas que esconde um coração maravilhoso, vai se tornando amigo de Thao. É uma grande lição de tolerância de ambos, porque Thao também tem que aprender a gostar do jeito radical de Walt. As situações nunca acontecem sem que cada pessoa seja marcada de alguma forma por um aprendizado de como ser flexível. Nesse e em todos os aspectos Nosso Senhor Jesus foi o maior professor de 'flexibilidade'. Ele é Deus e sabe como ninguém todas as respostas para fazer a todos felizes.

Walt Kowalski tem seus problemas com religião, sua esposa que morreu era mais religiosa que ele, suas lembranças de veterano da Guerra da Coréia são fortes e o levam para uma relação de religião e a morte, que já experenciou profundamente como ator de situações em que teve que matar outro ser humano.

Lá no seu bairro a situação se complica numa avalanche de violência e o final é surpreendente. Insconscientemente sua idéia de redenção vai ser posta em prática. A vida de Walt Kowalski se tornará preciosa para muitos.

Um filme com a assinatura do republicano e cowboy solitário Clint Eastwood.

Gran Torino (Gran Torino), de Clint Eastwood (Alemanha, Austrália, EUA 2008)

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