Resenha > O Iluminado

Jack Nicholson interpreta Jack Torrance, que vai para o elegante e isolado Overlook Hotel com sua esposa (Shelley Duvall) e o filho (Danny Lloyd) para trabalhar como zelador durante o inverno. Torrance jamais havia estado naquele lugar antes. Ou será que havia? A resposta está na fantasmagórica jornada de loucura e assassinato. (by www.2001video.com.br)

Mais uma obra-prima de Stanley Kubrick. Já disse por aqui, que Kubrick transformou um livro comercial de um autor medíocre em um filme assustador e transcendente.
Muitos dizem que o título O ILUMINADO se refere ao garotinho Danny (Danny Lloyd), filho do casal Jack Torrance (Jack Nicholson) e Wendy Torrance (Shelley Duval). Concordo, mas também tenho uma outra opinião. Pra mim O ILUMINADO é a própria figura de Lúcifer (filho da luz). Já no início do filme, o carro de Jack Torrance que se dirige para a entrevista de emprego no hotel Overlook nas montanhas, é visto na estrada por uma tomada aérea (de helicóptero) que penso ser muito sugestiva: um anjo do mal (Lúcifer) acompanhando num vôo a sua vítima Jack Torrance. É uma bela cena que mostra a estrada sinuosa nas belas montanhas e a pequenez do carro subindo a montanha. A trilha sonora indefectível de Wendy Carlos também dá uma atmosfera maligna à cena.

O fato de Jack Torrance se dirigir ao hotel parece ser uma armadilha do destino. O hotel gigantesco vai ser esvaziado para o período de inverno que é muito rigoroso nas montanhas. Lá ele vai servir como zelador junto com sua esposa e o filhinho. Na entrevista, dirigida por Kubrick, parece ser real de tão competente a atuação e preparação dos atores. Jack não se mostra surpreso quando o gerente geral do hotel o informa de que aconteceu uma tragédia lá. O último zelador matou a família, a esposa e as duas filhas gêmeas e se suicidou. O que alegaram é que ele teve um espécie de síndrome de isolamento e acabou enlouquecendo. Jack sabe da história, afinal foi muito divulgada nos jornais, mas não dá muita importância. Ele vai usufruir desse isolamento para concluir um livro, já que é um escritor iniciante.

A família de Jack é uma família tipicamente americana e jovem com um filhinho de 6 anos (uma interpretação antológica do garoto Danny Lloyd). O que a destaca das famílias "normais" é justamente o garoto que tem uma paranormalidade aflorada numa relação com um ser imaginário que ele materializa através do dedo da mão e a quem os pais interpretam como uma brincadeira infantil. Mas o "dedinho" abre as portas para profecias terríveis para o garoto.

No hotel eles conhecem o cozinheiro Dick Hallorann (Scatman Crothers) que tem uma afinidade paranormal com Danny, mas não tem o poder de profetizar. Ele procura arrancar alguma coisa de Danny e abre sua sintonia com o garoto. O cozinheiro também está se retirando para as férias forçadas, mas não serão férias tranquilas porque na sua mente ele intui que algo trágico acontecerá com a nova família de zeladores.

Os primeiros dias seguem normais com Jack se dedicando mais ao livro e deixando Wendy Torrance cuidar da inspeção do grande hotel. Com o decorrer do tempo e cada vez mais isolados com a nevasca, a comunicação é feita com o posto policial por rádio. As coisas começam a mudar principalmente para Jack. Como um boneco marionete que tem seu destino amarrado, o mal impregnado no hotel vai se apoderando dele através de alucinações. Antes da família chegar ao hotel, não sabemos nada sobre a vida de Jack, a não ser que estava desempregado e do seu sonho de escrever um livro. O que nos passa o excelente ator Jack Nicholson com seu estereótipo de alucinado, é que seu personagem é uma pessoa medíocre e não tanto responsável quanto as atribulações da vida.

Jack Torrance vive num estado de torpor, acordando tarde e mal se dedicando ao livro, transformado em laudas e mais laudas de repetições absurdas de frases. Daí Jack vai decaindo como fosse um recipiente sendo preenchido aos poucos pelo mal. Acontecem situações estranhas onde Danny sofre uma violência que o machuca no pescoço. Algo sugere um ataque pedófilo do próprio pai já completamente transtornado. Danny talvez limpando a barra do pai fala que uma mulher o atacou. Nisso, ficamos arrepiados pensando que mais alguém pode estar vivendo dentro do hotel com eles.

As cenas se desenvolvem com a mudança de personalidade de Jack e o terror de Shelley e do filho. O mais interessante notar é que Jack parece estar vivendo uma nova vida reencarnada na pessoa do antigo zelador assassino. Suas visões de seres humanos malignos que trabalham no hotel em situações imaginadas como reais, no bar, hora vazio, hora cheio de pessoas, num baile acontecido numa época que não a atual, onde ele conhece o assassino que faz questão de dizer que não sabe de nada de assassinatos, fazendo Jack crer que ele próprio é o assassino.

Desde o início Jack Torrance foi escolhido pelo ILUMINADO. Ciceroneado pelo ILUMINADO. Espiritualmente fraco ele foi levado a um lugar povoado pelo mal para saciar, talvez, uma sede de sangue. O isolamento ajudou para isso. O mal o alcançou realmente, mas livrou outros espíritos muito mais fortes (Danny e Shelley). Na estranha foto está lá sua figura, exatamente no centro das atenções, como a origem de um reencarnação maléfica de um candidato à uma tragédia no Overlook Hotel.

Na cena derradeira o pai persegue o filho de 6 anos com um machado na mão dentro de um labirinto ( * ), a inteligência é o Fio de Ariadne de Danny que despista o pai. A dubiedade da palavra ILUMINADO pode também servir para o filhinho de Jack. É ele quem quebra a maldição da prole de Jack, por isso deve ser eliminado pelo assassino, seu próprio pai, dirigido pelo outro ILUMINADO, o Filho da Luz, Lúcifer.

Kubrick fez um filmaço. A crítica elogia muito seus movimentos de câmera que são totalmente inusitados. Um livro popular de terror transformado num clássico do cinema. Imperdível!

( * ) Segundo o Dicionário de Símbolos de Jean Chevalier, o labirinto é um sistema de defesa contra o mal e também um caminho que conduz o homem ao seu próprio interior. Quem sai dele é um vitorioso na passagem das trevas para a luz.

O lluminado (The Shinning), de Stanley Kubrick (Inglaterra, EUA 1980)

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