Resenha > A Sombra de uma Dúvida

Quando o Tio Charlie vai visitar seus parentes na pacata cidade de Santa Rosa, estão lançadas as bases para uma de suas mais cativantes e emocionantes excursões. Joseph Cotten faz o papel do sedutor Tio Charlie, um assassino ludibriante que viaja da Filadélfia para a Califórnia apenas um passo à frente da lei. Mas logo a sua inocente sobrinha homônima, a "Jovem Charlie" (Teresa Wright), começa a suspeitar de que seu tio é o assassino da Viúva Alegre, tendo início um jogo mortal de gato e rato. À medida que a sobrinha se aproxima da verdade, a única saída para o assassino psicopata é tramar a morte da sua sobrinha favorita. (by www.2001video.com.br)

Segundo Alfred Hitchcock, este foi o filme que ele mais gostou de fazer. E é um filmaço!

O Tio Charlie (Joseph Cotten) é o queridinho irmão caçula da mãe da jovem Charlie (Teresa Wright) homônima do tio, tão querido que ela colocou o nome dele na filha. Só que a mãe não sabe que o titio é um frio assassino. Todo esse problema de manter as aparências para a mãe de Charlie faz a importância da magnitude do amor sobre a verdade. Charlie amava o tio e queria-o junto de si pelo menos para afastar o tédio da pacata cidadezinha do interior da Califórnia. Aos poucos ela vai percebendo a falha de caráter do tio, que é tão mau caráter que ele próprio nem percebe os absurdos preconceituosos que tem em seu discurso. Ele não suporta ver pessoas felizes, seja em seus trabalhos seja no seio familiar. Os irmãos miúdos de Charlie são os primeiros a perceber a esquisitice do tio, e a percepção das crianças é sempre maior do que a dos adultos. É como se suas almas inocentes fossem os polos iguais que se repelem em dois imãs sendo um deles o imã do mal.

Nas cidadezinhas pacatas, como Santa Rosa, o mal parece ser exponenciado em função, talvez, de uma "barreira de proteção angelical" das calmas cidades, daí cai a máscara do mal, e bandidos e assassinos se sentem verdadeiros tiranos nestes lugares. A cena da chegada de Tio Charlie na estação é muito interessante. Hitchcock aproveitou a fumaça negra do trem bloqueando a luz do sol, para simbolizar o mal chegando à Santa Rosa.

O fato de tio e sobrinha terem o mesmo nome, gera uma idéia de sintonia que vai sendo transformada em dois polos exatamente opostos, como das crianças com o tio. Algumas cenas são emblemáticas. A jovem Charlie deitada na cama em Santa Rosa, e quase no mesmo ângulo o Tio Charlie deitado também, em Nova York. Só que a jovem passa vida na maneira em que ela está com os braços jogados para trás, enquanto o tio parece mais um defunto deitado no esquife. Vida e morte se confrontando.

Charlie é muito esperta para se deixar enganar. No fim ela vai ver que o tio nada mais é que um grande crápula, o mal em pessoa. A sua missão será então esconder tudo de sua família para que a mãe não perceba o que seu irmão caçula é na realidade. Isso seria um choque mortal para ela. E o destino das pessoas boas e agraciadas é protegido, e protegida também é sua missão.

Charlie entendeu bem o aviso. Por mais que vemos nossas vidas um tanto paradas e tediosas, Deus sempre terá um ensinamento naquilo que Ele quer pra gente, e a jovem Charlie estava com seu coração aberto para a graça, e viu que o tédio nada mais é que apenas uma fase. A questão é resolvida da melhor maneira possível: aquela que faz todos felizes, afastados do mal, mesmo que alguns não venham a saber que ele estava ali pertinho, como a mãe da jovem Charlie.

Muito bom!

A Sombra de Uma Dúvida (Shadow Of A Doubt), de Alfred Hitchcock (EUA 1942)

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