Resenha > A Doce Vida

A epopéia de Marcello, Marcello Mastroianni, em busca de algo que em seus caminhos erráticos nunca será encontrado: a transcendência. O medo do casamento, da vida normal, do tédio, personificada na trágica morte do amigo, quase um guru, que surpreendentemente ainda tentava a transcendência. Marcello é um homem bonito. Será que os homens bonitos são afastados da transcendência pelo orgulho? Será essa a própria epopéia de Marcello Mastroianni? Uma obra-prima, sem dúvida, que jamais será igualada em se tratando do personalíssimo olhar magistral de Fellini.

Entre muitas cenas que me marcaram, destaco duas:

Uma é a visita do pai de Marcello. O velho fica empolgado com a vida boêmia outrora vivida, onde seu filho afoga as mágoas. Num bordel onde seu pai pediu pra ser levado, gosta de uma dançarina que já foi um caso do filho, levado para a casa dela ele passa mal. Talvez o excesso de bebida, mas algo mais, como lembranças da vida boêmia que pode ter levado pessoas à sofrer, inclusive Marcello que diz nunca ter visto o pai quando era criança. Será Marcello um produto da ausência deste pai? Marcello é chamado urgentemente pela dançarina preocupada com o estado do velho, quando Marcello entra no quarto da dançarina está lá ele sentado à janela curiosamente restabelecido e extremamente quieto olhando o horizonte, uma cena misteriosa onde não é preciso dizer mais nada. O arrependimento do pai é latente. Linda cena!

A outra é a cena final: a jovem impúbere escapa por pouco do seu, há pouco tempo atrás, admirador, bem mais perigoso agora por ter se conformado com a sua via crucis. Será que ela conseguirá a transcendência? Sim, talvez. Deus pode ter aberto um novo caminho para ela buscar essa verdade. Genial.

Um filme que já pode estar entrando no meu hall dos prediletos. Fellini, dizem, tem sempre surpresas em seus filmes que são descobertas nas centenas de vezes que os vemos.

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